quinta-feira, 6 de outubro de 2011

TVR SAGARIS.





Os TVR são supermotos de quatro rodas para quem não está preparado para se vestir inteiro de couro. Eles são um regresso aos muscle-cars do passado. E esse Sagaris de olhos selvagens parece o mais intenso deles até agora. Um carro tão absolutamente violento que, se fosse humano, ele teria tatuagens no rosto e uma sentença de prisão perpétua. A inspiração nas corridas está por todos os lados, das lâminas voltadas para cima nos cantos dos spoilers dianteiros à cavidade no teto que permite usar capacetes. E também aquele aerofólio com jeito de acessório pós-venda instalado na traseira. O Sagaris foi desenhado tendo em mente a homologação para corridas de enduro. Portanto, há um propósito em cada pequeno toque de loucura. Mas no carro de rua esses sinais se combinam para formar uma visão de pura fúria.

Aqueles cortes profundos nos pára-lamas eram saídas de ar no protótipo, mas a TVR os tapou por dentro depois que pedras voaram através delas e danificaram o pára-brisa. Foi a única concessão que eles estavam preparados a fazer. Até entrar no carro é estranho. Não existe nada suave como uma maçaneta na porta. Em vez disso, há um botão secretamente instalado sob o retrovisor. Por dentro o Sagaris tem pedais montados no assoalho, posição de dirigir inclinada, pára-brisa estreito, instrumentos e luzes de direção de cristal líquido, console central que ocupa metade do cockpit e alavanca de câmbio meticulosamente projetada em alumínio - em vez de ter vindo do estoque de peças de outro fabricante de carros.
O couro também é o melhor que você vai encontrar e, embora o cheiro de resina persista, esse é um legado do processo de manufatura artesanal. O mais importante para os indivíduos impetuosos que vão se apaixonar por este carro à primeira vista: o Sagaris não se parece com nada mais na Terra.
E isso é enquanto ele permanece quieto na garagem. Quando o motor desperta para a vida depois de uma punhalada no botão de partida, aí sim a coisa fica verdadeiramente insana. Ele ruge para a vida como um urso acordado da hibernação, antes de se estabilizar num rosnado ameaçador. Fui forçado a dirigir o carro a toda velocidade só depois de ficar livre num campo de pousos e decolagens - sim, de pousos e decolagens, tamanho o barulho estrondoso arrebentando pelos canos de escapamento. Preferindo agir com segurança, fiz uma mudança de marchas rápida a 5 000 rpm e me mantive bem ali, longe da linha vermelha de 7 500 rpm.
A TVR é um dos últimos fabricantes de nicho a insistir em produzir seus próprios motores, neste caso um seis-cilindros em linha de 4 litros rendendo 380 cv e 48,2 mkgf de torque. E tudo isso vem com um peso de 1 078 quilos, o que significa que o carro é rápido como um míssil.
Os números rendem uma leitura impressionante por si só, mas o 0 a 96 km/h em 3,7 segundos e a velocidade máxima de mais de 296 km/h dão uma impressão tão boa desse carro quanto ler sobre um massacre no jornal. Você precisa estar lá para entender de verdade a experiência assustadora de um TVR.
Não há diferencial de deslizamento limitado, nada de controle de estabilidade, nem ao menos controle de tração. O Sagaris tem a ver com brutalidade, velocidade crua e as habilidades de quem quer que esteja atrás do volante. Enterre o acelerador e os pneus traseiros de aro 18 vão simplesmente girar, cuspindo fumaça na atmosfera e envenenando a vida selvagem local. Por outro lado, pegue o carro com jeito e ele decola como uma bala. Nada mais barato que suas 50 000 libras (99 900 dólares) chegará a seus pés.
Batizado com o nome de um antigo machado de batalha, que pode muito bem ter sido usada para dar forma ao capô, o Sagaris oferece praticamente os mesmos níveis de sofisticação desse artefato. Ele não é uma obra-prima da tecnologia como a Ferrari F430, é um muscle-car da velha escola com uma aparência futurista.
A maioria dos roadsters intermediários com centenas de cavalos a menos usa hoje câmbio de seis marchas, mas o Sagaris vem com um de cinco velocidades da velha guarda que leva músculos de verdade a encontrar a brecha certa. Ele pode ser o equivalente automotivo de um ábaco no mundo dos supercomputadores. Mas esse é o prazer do TVR. Na pista ele é o carro mais recompensador e violento que alguém deve conseguir dirigir sem partir para uma máquina de competição propriamente dita.
Acima de 160 km/h, eu poderia jurar que meus tímpanos estouraram, conforme a carroceria de fibra de vidro começou a vibrar com o vento e cada irregularidade na pista transmitia uma pancada violenta à cabine, enquanto o volante se debatia como um peixe à beira da morte entre minhas mãos suadas.
Nas frenagens, o curso curto da suspensão faz o TVR serpentear de lado a lado. Se você desrespeitálo, ele vai morder você forte, mas isso sempre foi parte do apelo da marca. E este modelo, acredite se quiser, é o carro mais bem-educado a sair dos portões da companhia. Um TVR da velha escola teria girado para fora da estrada várias vezes em nosso teste, porém esta é uma máquina mais equilibrada.
A frente ainda entra nas curvas como uma navalha, mas agora a traseira fica firme e só perde o rumo com uma dose abundante de potência nas rodas, que é facilmente controlável com uma rápida braçada no volante na direção oposta. Se o acelerador é tratado com respeito, a traseira mal ameaça sair da linha. Exceder a velocidade nesse ponto deixa o esportivo sutilmente subesterçado, o que pode ser corrigido na aceleração por um piloto experiente.
O milionário russo Nikolai Smolensky assumiu neste ano o controle da marca inglesa fundada em 1947 por Trevor Wilkinson e, depois de pôr ordem na empresa, vendeu-a a dois investidores americanos. Seu primeiro passo foi parar a produção até que vários problemas de controle de qualidade fossem resolvidos. A TVR sempre negou que seus carros quebrassem com cansativa regularidade. Mas quebravam. E Smolenski decidiu colocar a confiabilidade em ordem. Ele até providenciou garantia de três anos a cada novo carro, algo de que praticamente nunca ouvimos falar no mundo dos esportivos.
Mas isso não é suficiente. Smolensky precisava domar o TVR, que tinha uma temível reputação. "Difícil de dirigir" não dá conta totalmente de explicar essa fama. Um TVR sempre estava a um lapso de concentração de ir de encontro a um muro. Isso precisava mudar. E mudou. O novo Sagaris é um salto quântico à frente em termos de estabilidade, além de ser relativamente confortável. Uma viagem de 480 quilômetros num TVR antigo teria deixado a mim cheio de medo e a um massagista repleto de dinheiro. Embora ele ainda seja destemido na pista ou numa estrada secundária sinuosa, numa via expressa este é o primeiro TVR que pode ser controlado com a ponta dos dedos e ainda pode deixar o motorista bem disposto depois de horas ao volante.
Não é um Porsche 911 ou um BMW Z4 M, mas é esse o ponto. Este é um carro louco, bem louco. É selvagem, vive no limite e tem tatuagens no rosto, mas o novo TVR não é um assassino - e isso deveria ser suficiente para torná-lo um sucesso de vendas.

Ficha técnica

Motor: longitudinal, 6 cilindros em linha, 24V
Cilindrada: 3 996 cm3 Diâmetro x curso: 96 x 92 mm
Taxa de compressão: 12,2:1
Potência: 380 cv a 7 000-7 500 rpm
Potência específica: 2,84 kg/cv
Torque: 48,2 mkgf
Câmbio: manual de 5 velocidades, tração traseira
Carroceria: cupê, 2 portas, 2 lugares
Dimensões: comprimento, 403 cm; largura, 185 cm; altura, 117 cm; entreeixos, 234 cm
Tanque de combustível: 57 litros
Peso: 1 078 kg Direção: pinhão e cremalheira assistida
Suspensão: braços duplos com amortecedores sobre molas
Freios: discos ventilados na 4 rodas
Pneus: 255/35 R18 Aceleração: 0 a 96 km/h em 3,7 segundos
Velocidade máxima: mais de 296 km/h
Principais equipamentos de série: CD player, vidros elétricos, bancos de couro
Preço: 50 000 libras esterlinas (99 900 dólares) - Preço do carro na Inglaterra, sem opcionais, como pintura metálica e ar-condicionado.

Veredicto
Tem a violência de um míssil, que pode ficar descontrolado em mãos pouco hábeis. Saiba pilotá-lo e estará em condições de enfrentar uma pista de corrida.



TVR Sagaris

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