Eu sempre quis dirigir o Batmóvel. E não qualquer um, mas aquele do filme de 1989, preto fosco, que tem uma turbina de avião para auxiliar o motor, exibe frente comprida e alta que toma parte da visibilidade do motorista. Claro que o motorista, no caso, é o Batman, e ele não deve se preocupar muito com visibilidade (o cara usa uma máscara). Mas eu não exigiria estar fantasiado de morcego gigante para andar no Batmóvel. Só a avaliação já me faria feliz, mesmo sem todas aquelas traquitanas. Só o volante, o motor…
Ai, finalmente, eu alcancei meu objetivo profissional. Agora já posso começar a planejar a aposentadoria. Tive a oportunidade de avaliar o Batmóvel – que, caso você não saiba, é fabricado pela BMW. Eles ficaram preocupados que algum criminoso descobrisse que eu estava de posse de um carro de herói, então mandaram o modelo disfarçado de M3 Coupé Frozen Black, uma série limitada a 20 unidades (duas delas para o mercado brasileiro).
Parado, mas ameaçador. Exterior é todo preto fosco, inclusive as rodas de 19″
Mas é o Batmóvel, acreditem em mim. Todas as características estão lá. A começar pela pintura preta fosca. Além de ajudar a ocultar o veículo durante a noite, enquanto o motorista está à caça de bandidos, o tratamento mantém o carro com uma aparência (muito) agressiva mesmo quando estacionado. Esse não é qualquer Série 3, amigo. É um Série 3 com o qual você não quer mexer. As rodas de 19” também são pretas e têm desenho exclusivo de série limitada. Assim como a grade dianteira, assinatura da marca. Na verdade, se você olhar bem, não vai achar muita cor na carroceria. A não ser, é claro, pelo logotipo M com detalhe azul e vermelho, aplicado na traseira e nos detalhes cromados nas entradas de ar laterais.
Dianteira mistura Série 3 comum com linha esportiva M, destaque para a grade inferior e capô elevado pelo V8
Eu nunca vi o Batmóvel capotar nos filmes, e agora eu sei o porquê: o teto de fibra de carbono. Além de garantir mais leveza e complementar com perfeição as linhas escurecidas da versão, a peça abaixa o centro de gravidade do cupê, permitindo que as curvas sejam feitas com mais força sem perder o traçado.
A traseira tem um desenho que valoriza a aerodinâmica sem abrir mão da elegância. É nela que o luxo da marca alemã, evidenciado pelo recorte das lanternas e pela curvatura da tampa do porta-malas, disputa espaço com a agressividade da linha esportiva – basta olhar para a seção inferior, que sustenta uma grade emoldurada por vincos e recortes, sem falar na saída quádrupla para o sistema de exaustão.
Na traseira, quatro saídas de escape e um dos poucos detalhes coloridos: o logo da série M
Então, ao abrir a porta do M3 eu encontro… Mais preto. No painel, nos bancos, no volante, no teto, nos quebra-sol, nos tapetes. Trabalhado em diferentes texturas, o tom (ou a falta de tom) domina o interior com elegância e beleza, ganhando toques de agressividade com detalhes como a faixa de fibra-de-carbono que se estica pelo painel acompanhando as saídas de ar, ou o desenho do apoio para o pé esquerdo e o comprido e sinuoso pedal do acelerador. Mas nada supera as costuras aplicadas nos bancos, painel e revestimento das das portas, que revelam um pouco (mas só um pouco) de vermelho, passeando por todo o interior. Ah, e olha ali o “M” em azul e vermelho de novo. No volante, no câmbio, no painel de instrumentos.
Interior mantém tom preto, mas brinca com costura vermelha grossa nos bancos, painel, console e portas
Eu não estava vestido de Batman, mas agora entendo que mesmo com aquela roupa não há como ficar desconfortável no M3. O ajuste eletrônico dos bancos é muito preciso, com formato concha que sempre entrega uma posição esportiva para dirigir. Em especial pelo apoio para as coxas, que permite deixar a perna bem alinhada aos pedais sem cansar. O volante só amplia essa sensação, com uma textura de revestimento que permite uma pegada perfeita e ajuda a transmitir muito bem os efeitos de cada manobra feita com o cupê. Os indicadores são bem discretos e não saltam aos olhos, a não ser quando anoitece e se tornam a única coisa que brilha em meio à escuridão interior do M3.
Ao olhar para frente, a visão não fica restrita. Mesmo com a elevação do capô que indica a presença de um motor V8 4.0 (e uma turbina de jato, provavelmente). Mas, como a minha descrição (e as fotos do Fabio Aro que acompanham este texto) já mostraram, a vista do motorista é boa mesmo se ele não olhar pelo para-brisa.
Bancos são esportivos e confortáveis. Apoio de pernas e de ombros ajuda na posição para acelerar
Ação!
Ao apertar o botão de ignição, o trabalho sério começa. O ronco do motor sobe manso, e uma imensa labareda de fogo sai das quatro saídas de escape. Está bem, esta última parte não é verdade, mas o ronco sim. Não é um ronco normal, mas um tremor grave e baixo, quase uma ameaça. Não se liga um carro desses para qualquer passeio. E a razão é simples, este não é um carro para qualquer passeio. E agora eu entendo porque a principal arma do Batman não é seu cinto de utilidades, sua capacidade de investigação ou seu conhecimento de artes marciais. O Batmóvel não só intimida, mas assusta. Basta acelerar.
Fibra de carbono no painel ajuda na leveza do carro e no visual agressivo
Não tem vez, quando os 414 cavalos do M3 são colocados em ação, fica evidente que este não é um simples carro. Segundo a BMW, a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 4,5 segundos (0,2 s mais rápido que o M3comum), e eu poderia ter medido isso com mais precisão se não estivesse distraído demais cantando mentalmente o tema do filme de 1989 toda vez que acelerava para sair com o M3. A sensação é única e o mérito é todo do câmbio robotizado de dupla embreagem e sete marchas. Ao pisar forte no pedal, ele demora o que parece um nanossegundo para processar a informação e, finalmente, lançar o carro para frente. Como se fosse um jato (eu tenho certeza que tem uma turbina de avião escondida em algum lugar…).
A aceleração é acompanhada, ai sim, de um ronco mais furioso. Com a linha vermelha da rotação aos 8.400 rpm, o avanço das marchas acontece de maneira tão orgânica e rápida que é praticamente impossível sentir os seus efeitos. Não há trancos, pequenas paradas ou queda de ritmo, apenas uma curva contínua de velocidade enquanto o motorista não deixar de pisar no acelerador. E não existem curvas que possam atrapalhar no processo, já que o M3 sempre sabe como ir para onde você manda.
Volante tem costura nas cores da série M. Estilo de direção pode ser ajustado para valorizar performance
Acontece que esse M3 vem equipado com o Competition Package, da BMW, que eu apelidei de Kit Batmóvel de Competição. Ele transforma o modelo em um verdadeiro carro de corrida, rebaixando a suspensão em 10 milímetros e recalibrando o sistema dos controles de estabilidade e de tração – esta última parte significa que o carro ficou mais arisco, mas ao mesmo tempo, mais disposto a chegar próximo ao limite. E por falar nisso, a velocidade máxima é limitada eletronicamente a 250 km/h, provavelmente porque, se não fosse limitada, o M3sairia voando.
Para afinar ainda mais as configurações de performance do cupê, basta apertar o botão “M” do console central, uma facilidade permitida pelo pacote tecnológico, que também acompanha um sistema de GPS. O sistema de som Premium BMW (para quem não se contentar em ouvir apenas o ronco do motor) permite conexão com iPod e USB e os bancos possuem sistema aquecimento.
Como o Batman é bilionário, não deve ter dificuldade alguma em pagar R$ 443 mil para conseguir uma das exclusivíssimas unidades do M3 Coupé Frozen Black. Por isso mesmo ele deve ter uma frota inteira deles. Então fico feliz pela oportunidade de experimentar esse carro de super-herói, sem ter nascido rico ou precisar enfrentar bandidos. Eu seria um péssimo Batman, mas quero que ele fique sabendo que cumpriria muito bem o cargo de motorista. BMW, por favor, avise Sr. Wayne.
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